terça-feira, junho 26, 2007

A que distância da língua comum deixáste o teu coração?


Foi para ti que semeei a noite de estrelas, mas estou cansada dos suicídios do adeus.
Acredita, o sono rasga-se com o pus violento da dor.
Os sonhos congestionam-se e apodrecem no desencanto.
Abro os olhos quando as lágrimas sabem a sangue, numa mistura onde o silêncio queima a garganta.
O cansaço não resiste à solidão vazia de gestos... na distância a voz é uma faca a rasgar a pele. E quando os lábios tremem nos sonhos devorados pelo pus das cicatrizes, acende-se a memória das pedras, onde em cada som, sei a cor com que o silêncio é violado.
Não tenho voz quando a dor é uma sequência perdida na solidão. E quando a noite é líquida e as pedras vagueiam pelas desculpas...
... o cansaço não resiste ao escorrer dos gritos que arranham a dor com o suor das pedras.

segunda-feira, junho 25, 2007

Toquei-te, embora não estivesses ali.

Onde estás quando preciso de ti?
Estás infinitamente longe...
Quando...
preciso de ti.

sexta-feira, junho 22, 2007

E o meu chapéu de chuva, esse: onde ficou?

O amor é uma ferida escondida nos nossos livros de infância, onde aprendíamos a ler os traços da nossa pele: onde nem sequer imaginávamos o que viria a acontecer. Sei que estou quieta e presa no meu mar baço onde as minhas mãos se destroem: o dia está pesado por demais, a minha pele de heroína já não se cura tão rapidamente. Sei que te disse que iria estar sempre aqui; sei que te disse que, enquanto dormisses, te iria guardar o sono. Perdoa mas falhei. Estarei longe, ou perto - tanto faz. Estou por demais cansada, sabes? De nada me vale correr o mundo a salvar vidas, a salvar-te de algo que me iria para sempre preencher com um espaço demasiadamente branco e disforme para o conseguir compreender. Talvez o tempo tenha sido curto para te dizer tudo aquilo que as minhas mãos não conseguiram soletrar.
E sei que, por vezes - mas só às vezes - te digo as palavras que não sei dizer de forma errada. E não será por querer - será por errar por nascer, de uma forma que nem eu conheço. Hoje já
e tarde para que possa escrever tudo do modo certo, para que as linhas se emparelhem de uma forma semi-perfeita etérea e para que tu as leias. Mas, quem sabe um dia destes virás aqui, onde eu estou agora - olhar-me-ás dessa forma frágil confortável, e saberás dizer-me tudo o que eu não te disse.

terça-feira, junho 19, 2007

Delírios


São incontáveis as horas em que sou companhia ou lado de mim mesma...
... eu e um copo de néctar quase imaginário, que ora nasce doce e denso dos dedos que mordo devagarinho, ora se socorre dos pensamentos mais profundos e desenraizados de consciência, quando sou só ser da terra que se mistura de mãos e joelhos com os instintos, num entendimento das essencialidades mais básicas e fundamentais que não carecem de contornos ou formas.
Nesses momentos é fácil aceitar: as coisas são o que são. Porque é outro o mundo.
Não ouso o sonho se ele me prende asas às costas e me fala da inevitável extinção dos que não se ajustam ao meio.
Restam eles, os delírios (inconfessáveis)... o sabor exótico e ácido que se esquece nos meus lábios e com que acendo as manhãs.

quinta-feira, junho 14, 2007

Existem silêncios demasiados nossos. Este... é um deles.

É 1:30h da manhã... fui à varanda tentar olhar a lua... o céu... as estrelas, para não me sentir tão só... mas encontrei um nevoeiro completamente cerrado, só consigo ver a àgua em forma de nuvem cinzenta, logo à frente do meu nariz... sentir a àgua fria da nuvem que me rodeia, sem sequer me mexer...
Voltei para dentro.
Estou naqueles dias em que queria deitar a cabeça no colo de um amigo e ficar... só ficar ali...
Ainda me pendurei no pescoço de Deus... saltar era demasiado fácil. Lá em baixo só uivava o vazio. O vazio que tão bem conheço.
Bem...
... podia escrever 509 linhas sobre isto que sinto, mas para quê? Se é essa a ideia... não sei porque estou assim... talvez porque me assaltam a mente todas as coisas em que não quero pensar, por ter todos os meus amigos em baixo hoje, e nenhum querer falar sobre isso... e eu também não... não quero falar sobre o passado... presente e muito menos futuro...
... pena não conseguir ver a lua... e só sentir o frio do nevoeiro cerrado que me rodeia...

quarta-feira, junho 13, 2007

Carta

Sinto-me uma caneta com a tinta fresca a escorregar... a precisar escrever... a precisar soltar algo...
Já o tenho feito bastante há uns dias, aqui no meu blog, ou no meu registo de guerra como gosto de chamar-lhe. Registos esporádicos, agora mais frequentes.
Sinto-me bem... sinto-me mal... sinto que me falta algo, algo de mim própria... sinto que me roubaram não sei o quê, nem onde, mas sei que no seu lugar ficou ela...
a eterna saudade...
palavra que não existe apenas em português, como nos fazem crer e querer, porque ao procurá-la encontreia-a logo ao lado no dicionário espanhol.
Também eles sentem saudade, quanto mais não seja do europeu...
mas essa não dói tanto...

terça-feira, junho 12, 2007

O Medo de poder sentir Coragem

O tempo e o hábito são os dois grandes inimigos da vontade. Por tudo o que sentimos e queremos, algo em nós se esquece que a vida são dois dias e que temos que lutar por eles. Sem coragem para lutar aos olhos do mundo, choramos pela ausência de pensamento, crença, êxito. Não lutamos pelo que nos faz voar, não ganhamos um jogo que nem sequer jogamos ou não o fazemos com medo de o perder. Não o fazemos pela simples razão que temos dúvidas se o devemos fazer, se o queremos ou se podemos.
Demasiadas questões que nos baralham e nos impedem de reagir, impedem de pensar, impedem o tempo, origina hábito; e ao perdermos tempo a não pensar em algo, choramos. Não pensamos no que deveríamos de fazer, limitamo-nos a passar ao longo do que queremos e deixamo-lo fugir, para alguém que fez o que nós deveríamos de ter feito.
Neste tempo, hoje e amanhã, onde tudo tem pouco significado, tentamos algo precioso para nós, mas temos receio de o mostrar, de nos expor, temos pânico pelo que queremos de nós, dos outros e da vida.
Passado algum tempo nós próprios perdidos, num instante, não conhecemos os nossos sentimentos, pois tudo o que nos era especial e sentido, tornou-se um sonho para nós e realidade de outros; uma vida que já não queremos nem desejamos.
Sabemos quem somos, tentamos fazer algo para voltar a pensar como pensávamos, coragem para o que queríamos, mas .......... simplesmente bastante tempo, tempo que passa e o vento leva os sentimentos, as paixões, a vida e caímos no pensamento de todos os outros sem termos o que eles têm, nada.

segunda-feira, junho 11, 2007

Infância


Porquê a infância?
Porque havia tudo, e não tinha nada.
Havia esperança sem ser com cravos em canos largos de espingardas
ou
simplesmente:
havia tudo por mudar.

quarta-feira, junho 06, 2007

"Meme"

O meu "A outra face", recebeu um Meme e, em simultâneo, propuseram-me o Desafio dos "6 mais".
Pois é, a distinção foi-me concedida pelo Meu Doce e Querido Amigo. J. Vítor Silva, o poeta do "Um Poema de Vez em Quando".
A minha árdua tarefa agora, consiste em nomear mais seis blogs que, também a mim, me façam pensar, sentir, reflectir e acreditar.
Aproveito a oportunidade para também acarinhar com esse Meme àquele que me ofertou o seu, J. Vítor Silva do "Um Poema de Vez em Quando".
Os meus nomeados que poderão ou não dar continuidade ao Meme e aos quais dedico com prazer meu Meme, são:
Paulo, do blog "Mais Tempo"
Albino Santos, do blog "Poliedro"
João Marinheiro, do blog "Porquexistes"
Pedro Antunes, do blog "Sopro do Vento"
Broken, do blog "Monólogos"
Lisa, do blog "Noites de Lua Cheia"

terça-feira, junho 05, 2007

De ti não vou guardar nada que não deixes.



Nada há que eu queira devolver-te. Sei que, se fosse ontem, milhentas coisas te poderiam ser restituídas, da mesmíssima forma em que as obtive: inócuas... metálicas.

Sei que a hora já é tardia para que te consiga acordar; para que, entre a água e a lama dos meus olhos, nada mais entre a não ser o teu corpo desnudado. Já lá vão alguns dias desde a última vez em que não nos encontrámos, e de mim tenho a ténue imagem de resignação, de silêncio.

Assim te tive.

Assim é a forma como te vou lembrar, de ora em diante: ausente, quase-meu.

É como hoje, em que nada sai como seria suposto: existe calor em formas diversas, mas o corpo é uma moldura de tudo aquilo que não quiseste lembrar.

Sussurro-te, de longe, hoje: nada mais resta por aqui.

E conseguiste ouvir-me, não sei como, a dizer-te tudo aquilo que irias conhecer no futuro, e foi ontem que partiste.

De ti não vou guardar nada que não deixes.

Isto porque as coisas que tenho são minhas, neste momento. Deixaram-te, ultrapassaram-me de uma forma que não conheço e juntaram-se a outras cicatrizes que passeio, com o meu corpo.

Talvez a minha doença seja essa: não saber quando estás ou quando partiste. Não ter a certeza definida de que os teus passos ladeiam as minhas memórias.

Fiquei surpresa com a velocidade a que as memórias nascem, crescem, morrem e deixam pó nos olhos.

Talvez seja esta a forma como te tenho, hoje, mesmo que aqui não estejas desde o momento em que partiste - mas de ti resta-me apenas o teu cansaço, que uma vez consegui guardar.