domingo, outubro 28, 2007

Sentidamente



Concluí da distância que nos separa, da ausência de espontaneidade nas conversas, da impossibilidade de falar com sinceridade, logo afirmando a mim própria o fim de muito tempo de engano.


Concluí da frieza dos sentimentos hibernantes e ainda julgados vivos.


Concluí da necessidade de cortar com o que mais não foram do que rostos que comigo se cruzaram, de mim retirando a força nos instantes de dor, o sorriso quando apenas isso os fazia, também a eles, sorrir, ou um ouvido silencioso nas horas de desabafo.


Vi, no fundo, ter muito pouco que partilhar e ainda menos com quem fazê-lo. Só que ao invés de revolta e choro, apenas uma mágoa oriunda do tempo perdido, pressenti ao fundo do corredor principal do meu Eu.

Por saudade?

Por desgosto?

Talvez por desilusão.


O que fazemos por sentir (e não por obrigação ou segundas intenções), são letras ordenadas apenas nos instantes de oportunismo de gente que vemos nesse então como diferentes.


sexta-feira, outubro 26, 2007

Adormecendo sabendo do frio.

Já sinto de novo o frio.
Os dias passam, afinal, tão depressa e num ritmo tão seu que jamais poderei sequer perceber, quanto mais ousar abrandar.
As semanas sucedem-se, o corpo envelhece sem misericórdia.
Os meses encadeiam-se, ignoram os pedidos que lhes faço e a mente ... crescerá?

terça-feira, outubro 23, 2007

Monotonia

Procuro.
Uma luz.
Um sentido.
Um pedaço de sensatez no destino.
Silêncio.
Vozes no silêncio.
Que exigem.
Exigem de mim uma decisão,
um ponto final numa história arrastada demais.
Tapo os ouvidos.
Aqui ninguém me pode alcançar.
O processo de cura é solitário.
Solidão.
Silêncio.
E eu.
Sem um sentido para dar
aos dias que rasgam a monotonia do destino.

segunda-feira, outubro 22, 2007

A mente é dona de estranhos buracos e armadilhas.
Penso que também sabes isso.
Por isso torna-se inútil dizer-te palavras que conheces e mesmo assim recusas entender.
Era apenas uma palavra...
Uma palavra a negar a estranha necessidade de ser tua sem o ser.
Sabes que quis fugir? Fugir de ti, fugir do amor que te tenho e me prende as asas...
Ser feliz nem sempre é fácil, sabias?
Ser feliz às vezes também dói.
Porque ter-te a meu lado é toda a minha felicidade, a minha única felicidade e no entanto por vezes parece-me tudo tão distante.
Sim... é em ti que vivo e no entanto quis fugir de ti.
Porquê, perguntas-me tu, e deitas-te em mim.
Porque amar-te é a única coisa que não sei fazer. Porque tenho medo. Porque este amor me ultrapassa. Porque tenho medo de precisar de ti mais do que precisas de mim.
E ainda assim, enlaças-me em ti.
- Quero-te dizes tu. E eu sei, estranhamente, que é verdade. Sei... e assim silencio o medo, apago as lágrimas e adormeço em ti.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Quantas linhas são precisas para se escrever o que se quer dizer?

Uma chávena fumegando.
No ar vazio, ergue-se a espiral imperfeita de pequenas gotículas indistintas, desenhando no ar um calor que embacia os olhos...
E aquele aroma quente... chocolate.
Diria amargo.
Porém, talvez de uma doçura ímpar; difícil de tocar, nem que ao de leve, pelos lábios mais desatentos.
O quadro pintado de uma realidade acontecida sobre uma mesa tosca, num dia sem número, numa manhã, ou tarde ou noite sem hora certa.
A tela passada.
Sem registo do que viam os olhos aquecidos pelo sabor sem igual.
Sem registo da conversa que não aconteceu.
Sem memória do acorde que flutuava.
Sem nada, afinal.
E com tudo para poder ser mais do que nada.
Muito mais.

quarta-feira, outubro 10, 2007

A noite é uma aliada inegável da Verdade.

Todos os meus sonhos se estão suavemente a desvanecer nos dedos finos. Embora eu renasça por entre eles e delicadamente tente, em vão, criar novos sonhos e esperanças para substituir os que me morrem todos os dias.
Quando chega a noite eu sei sempre que a luta diária para criar e recriar sorrisos é uma luta inglória, um teatro demasiado penoso. Mas, mesmo assim, sorrio. Os meus sorrisos umas vezes são sinceros e cálidos, outras vezes são ironia pura.
A noite é uma aliada inegável da Verdade.
Ela mostra-nos os nossos mais temidos horrores, as nossas mais extraordinárias mentiras e seduções.
Todos os dias eu minto e sou feliz.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Carta

Sei que não se parece em nada com uma carta, porque não pretendo dar-te notícias ou dizer o que a vida me tem trazido: apenas quero mostrar-te que, por mais vidas que tenhas, o teu corpo não será nunca capaz de medir todo o amor que se me transpira pela parte de trás do meu silêncio.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Clandestina

Respira devagar sem que ninguém te sinta.
Deixa que o teu peito receba o subtil sopro da vida.
Deixa-o arquejar enquanto me tomas as mãos
e num sorriso me fazes promessas que ambos sabemos
são tão fáceis de quebrar.
As promessas existem apenas para que as possamos esquecer
e criar tapetes de dor nas suas cinzas.
Talvez eu ainda te saiba, penso eu enquanto te percorro
as linhas do rosto com as mãos.
Levantas-te e percorres o quarto e tentas decorar
cada nuance do meu corpo.
Vais lamuriando todos os poros da minha pele
numa ladaínha sagrada...
Dizes que assim vais sempre saber por onde começar,
quando a tua memória te exigir a atenção
de uma mulher que era menina.
E agora... não sabe o que é.
O telefone toca.
Toca sempre nos momentos mais previsíveis.
É sempre quando aproximas os teus lábios para me dizeres
que afinal tudo mudou e tudo fica igual.
Nunca dizes.
Fica sempre suspenso entre nós
como um fio de teia que tecemos nas mãos hábeis.
Afinal era um recado sem importância.
Vestimos as nossas peles e deixamos de ser amantes
para sermos dois seres vulgares.
Sentamo-nos no café e as pessoas fitam-nos
com os seus olhos enormes e cheios de erros falhados na vida.
Eu olho-te e num sorriso entrego-te um bilhete
clandestino por baixo da mesa.
Nele escrevi à pressa:
"quero amar-te uma e outra vez. E no final quero que me olhes. Quero que deixes o som sair em espiral enquanto suspiras palavras que depois não nos vamos lembrar."

Tu engoles o café muito depressa e ainda
com a língua a queimar-te o céu da boca dizes-me baixinho:
"Adoro-te".

terça-feira, outubro 02, 2007

Poderia ser Diferente?

Há muito que sinto que o tempo não é tempo de verdade. Há muito que os dias são meras 24 horas às quais desprezo a sua real importância. Há muito que partilho as refeições da alma com os pensamentos vagabundos. Há muito que sou silêncio. Há muito que existo em tantos reflexos que já me custa reconhecer. Há muito, mas mesmo há muito tempo (de verdade), que os meus sorrisos não eram tão profundos (e confusos).
O tempo escasseia-se por entre os relógios e a vontade que a alma faz transbordar... já há muito que se confundiu com saudades e possíveis palavras. Os desencontros perecem por entre minutos inseguros e incertos. Sinto-me perdida por algo a que chamam "tempo" e por ele divago e sonho.
Agora são exactamente... algumas tantas horas, misturadas em minutos e mergulhadas em milhares de segundos...
A vida divide-se e volta a encontrar-se, nunca no momento certo. Nunca no minuto exacto. O destino nunca foi vivido a sério, as almas despiram-se tantas vezes da verdade para se acumularem em ilusões e desconfortos sorridentes.
A verdade?
Essa, foi sufocada pelos sonhos e ganancias de almas subordinadas de sentimentos avassaladores. As asas que os nossos olhos continham foram presas e só o pensamento conseguiu voar. Os olhos mantiveram-se intactos, parados, monótonos. O inatingível quase foi ultrapassado se não fosse o obstáculo "medo" e "dor".
Quase na meta do sonho e da realidade, apercebo-me que tudo poderia ser tão diferente...
Hoje, resta-me apenas a Criança frágil, o Ser que queria a diferença, o meu lado sonhador.

segunda-feira, outubro 01, 2007



Escrevo na parede da loucura:
"Onde estás quando preciso de ti?"
Estás infinitamente longe...
Quando...
preciso de ti.