segunda-feira, setembro 29, 2008

Cemitério dos poetas

Há pessoas que põem palavras nos nossos sentimentos. Parecem-se com os poetas. Mas, depois de surpresa, abandonam os nossos sonhos pé ante pé ou de pantufas. Não sei... Na verdade, decepcionam-nos (devagarinho) e, quando damos por isso, apagam-se dentro de nós. Deixam de ser preciosas e, por tudo o que valeram, não podem voltar a ser só nossas amigas. Partem, portanto, para uma terra de ninguém, muito distante do sítio onde vivem os génios da lâmpada, o Pai Natal, as fadas e os duendes. E por lá ficam. Mais ou menos errantes.
Imagino esse lugar, onde se acotovelam tantas pessoas que nos disseram tanto, como um Purgatório, com a particularidade de lá não se ser promovido, com facilidade, até ao Céu. É verdade que essas pessoas não se transformam num inferno dentro de nós, embora, por vezes, surjam, ora como um vulto ora como uma silhueta ou, até mesmo, como uma estrela cadente que, atravessando o nosso coração, já não provoca um arrepio (muito menos, um calafrio, que são aqueles sentimentos impetuosos que nos desabotoam a cabeça e nos deixam a arder de paixão e a tremer de medo, ao mesmo tempo).
Afinal, não são nem amigos nem amores. Transformam-se num museu? Numa arqueologia de todos os amores, por exemplo? Ás vezes, nem nisso. Infelizmente. Se fosse assim, estáticas ou em pequenos pedaços de histórias, empoeirados, seguravam-se no nosso coração. O que não acontece às pessoas que foram perdendo a magia...
Este não sei para onde (eu sei que, dito assim, custa só de pensar) é uma espécie de cemitério de poetas dentro de nós. Um lugar de silêncio que convida a espreitar para o que sentimos. Com surpresa e com dor, ao descobrirmos que, ao contrário do que sempre desejámos, há relações - luminosas - que foram morrendo para nós. Às vezes, assusta. Afinal, não é simpático descobrirmos que mora em nós alguém que, não sendo o Capitão Gancho, tenha ajudado a morrer (de inanição, por exemplo) quem trouxe poesia, ou luz, ou um insustentável rebuliço ao que sentimos... Ás vezes, atormenta. Porque magoa descobrirmos que - mesmo quando nos imaginamos a dar a sala mais espaçosa do nosso coração - também nós, dentro de algumas, vivemos sem viver, errantes, nesse não sei onde de alguém, entre os seus amigos e os seus amores. Ás vezes ainda, somos tocados pelos galenteios da vida e, levados pelo entusiasmo, imaginamos que, se desejarmos com muita força, algumas das pessoas que guardamos no nosso cemitério de poetas ressuscitam e regressam, cheias de luz, para surpresa do Pai Natal ou das fadas (que, sendo mágicos, parecem viver num mundo de bolas coloridas de sabão). Eu sei que também entre as pessoas há quem pareça mágico mas intocável. Como eles. Mas não se esqueça: esse é o cais de embarque que, de surpresa, nos pode levar (sem volta) para o cemitério dos poetas.

quinta-feira, setembro 04, 2008

... senti uma dor tão profunda e uma aflição tão forte no peito, que algo dentro de mim começou a despedaçar-se. O amor foi obscurecido pela dor e ao extase seguiu-se a desilusão.

quarta-feira, setembro 03, 2008

Às vezes acho que sei qual é afinal o teu segredo. Estás bem porque te conformas. E a felicidade, dizem, não é afinal apenas dos tontos, mas principalmente dos que se conformam.
Decerto concordas. Até porque um dia, hoje mesmo talvez, tu vens e dizes que o amor não é suficiente e que por isso temos de o descartar e deixar ir embora. E eu devo aceitar, rever o meu tempo perdido e as minhas forças perdidas, seguir com a minha vida e, da noite para o dia, aprender a viver com isso.
Ontem, senti-me transparente. Achei-me tal uma coisa bem simples de se perceber. Só queria que cada pergunta e cada resposta tivesse retorno... mas, olhando para trás, só queria realmente ter pensado melhor, para que hoje, eventualmente, tu fosses embora e eu não me importasse com isso.
E vou lembrar que dar sem receber é para os tontos.
E eu não sou assim.
Mas hei-de lembrar-me sempre que não houve retorno.
Tenho muita pena que tenha de ser assim. Mas depois olho e percebo que haverá sempre alguém na eminência de se ir embora. Eu fico e tu vais. Por sistema. Talvez se eu tivesse ido embora, uma única vez, te provasse que em esquina alguma vais encontrar mulher que tenha gostado tanto de ti, por tão pouco.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Setembro chegou e eu mal dei por ele.

Esqueci-me vagamente de como não gosto de Setembro.
O Sol ajudou.
As ilusões também. E a vontade de pensar que de um nome pode nascer a esperança de te trazer nos olhos.
Agora já não chamo por ti, já não te escrevo cartas nem poemas. Nem sequer penso em ti. Chorei escondida ao ver um filme que dizia, com todas as letras, que as recordações não passam de lágrimas perdidas. Fingi não acreditar. E, hoje, ao saber que não tenho o direito de te imaginar aqui (porque não posso), tenho a certeza que não tenho lágrimas para te dar. Porque não és nem nunca vais ser uma recordação. Chega a ser ridículo. A velocidade com que entras e sais da minha vida. O sorriso que invade sem culpa a minha aparente calma. Cheguei a querer-te mais perto.
Quando me esqueci que não gosto de Setembro. Desta intimidade que me roubas sem vergonha. E toda a gente sabe que eu não gosto de Setembro. Por todas as recordações que são lágrimas perdidas, por todos os momentos guardados no fundo da gaveta do esquecimento. E vieste tu, sem avisar, plenamente consciente de que serias capaz de curar corações avariados como o meu. E disseste, baixinho, aquilo que eu queria ouvir. Que os sonhos cabem todos na palma da mão. Que os corações avariados são mais bonitos por causa disso. Eu quis acreditar.
Hey Mr. Pleaser would you smile for me?
E sorriste. Mas tu não trouxeste a cura.