Gostava de acreditar que sim. Que posso deixar a máscara de lado e contentar-me com o que sou. Coisa pouca. Mas preciso de me esconder por detrás de palavras para conseguir dizer o que sinto. Ou quero, ou devo sentir. Sou mais uma mulher calada, um indício de tempestade que nunca acontece. Sou mais uma pessoa com medo. E vou-me calando, vou-me arrastando e escondendo o quanto posso, até não aguentar mais. E depois grito um basta - única prova da vontade de ir de mão dada com os perigos - mas logo volto atrás, com uma desculpa qualquer. Um mau agoiro ou a certeza das minhas fraquezas. E assim se vão passando os dias, acumulados como pó a pesar-me nas costas. E eu gostava de não calcular nada, de seguir desbravando caminho sem pensar em consequências maiores que não me deixam dormir, às vezes. Quase sempre. E o cansaço de ser como sou cá está. E lá vou eu buscar a máscara - sempre optimista - dos discursos bonitos. Porque há que não ficar calada. Porque só se vive uma vez. Porque a vida não é fácil mas é mais difícil quando se nos turva a vista com lágrimas e não se vê um palmo à frente. Porque há quem esteja pior - e há, pois há. E depois de palavras tão sábias e tão puras - que ficam sempre bem na boca dos outros - fica um nó na garganta por tudo aquilo que eu não sou. Aquilo que não fui capaz de ser, depois de tudo o que me ensinaram ou sacrificaram por mim. Fica o vazio por ir tentando todos os dias - ser uma pessoa melhor e isso não chegar aos olhos dos outros. E quem é que eu quero enganar? Não chega para mim também - se me deito e levanto a pensar nisto. Já não basta o sorriso caiado na cara para dizer que está tudo bem. Mas, lá está, aqui todos usam máscara e acham bem, muito bem. Eu, secalhar, nunca cresci. E este mundo não me chega, como não iria chegar outro qualquer.
Posso inventar novos sonhos que hão-de cair - mais cedo ou mais tarde - aos meus pés. Há, ainda assim, alguma verdade nisto. Os outros são hábeis mas eu não. Porque mesmo calada - sem que nenhum movimento se faça adivinhar em mim - não me revejo noutros gestos. E prefiro assim, ficar quieta. Cobardia - dizem uns. E eu aceito. Ou digo que não, conforme os dias. Aí chamo-lhe sensatez. Que é quando gosto mais de mim, sensata. Mas depois chega a vida rotineira de quem se diz assim e o que mais se quer é fugir de tanto tédio. O que fazer? Pois bem, não se sabe. Pede-se ajuda aos astros mas os signos não percebem nada das coisas que nos abalam o coração. Vai-se à procura de conselhos mas não apetece falar sobre o assunto, que chatice. Sai-se para a rua com uma música no ouvido e canta-se a alto e bom som para enganar o silêncio que se faz cá dentro. E é assim, vamos vivendo com a cabeça entre as orelhas. A sonhar com dias melhores e com o mundo lá em cima, mas sempre com medo das vertigens. Com o medo de cair que não nos larga a porta. E hoje apetece-me dizer que nenhuma máscara me serve. Nenhuma máscara é capaz de exprimir o que me vai na alma.
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