
Respira devagar sem que ninguém te sinta.
Deixa que o teu peito receba o subtil sopro da vida.
Deixa-o arquejar enquanto me tomas as mãos
e num sorriso me fazes promessas que ambos sabemos
são tão fáceis de quebrar.
As promessas existem apenas para que as possamos esquecer
e criar tapetes de dor nas suas cinzas.
Talvez eu ainda te saiba, penso eu enquanto te percorro
as linhas do rosto com as mãos.
Levantas-te e percorres o quarto e tentas decorar
cada nuance do meu corpo.
Vais lamuriando todos os poros da minha pele
numa ladaínha sagrada...
Dizes que assim vais sempre saber por onde começar,
quando a tua memória te exigir a atenção
de uma mulher que era menina.
E agora... não sabe o que é.
O telefone toca.
Toca sempre nos momentos mais previsíveis.
É sempre quando aproximas os teus lábios para me dizeres
que afinal tudo mudou e tudo fica igual.
Nunca dizes.
Fica sempre suspenso entre nós
como um fio de teia que tecemos nas mãos hábeis.
Afinal era um recado sem importância.
Vestimos as nossas peles e deixamos de ser amantes
para sermos dois seres vulgares.
Sentamo-nos no café e as pessoas fitam-nos
com os seus olhos enormes e cheios de erros falhados na vida.
Eu olho-te e num sorriso entrego-te um bilhete
clandestino por baixo da mesa.
Nele escrevi à pressa:
"quero amar-te uma e outra vez. E no final quero que me olhes. Quero que deixes o som sair em espiral enquanto suspiras palavras que depois não nos vamos lembrar."Tu engoles o café muito depressa e ainda
com a língua a queimar-te o céu da boca dizes-me baixinho:
"Adoro-te".