segunda-feira, maio 21, 2007

Sou eu


Sinto-me fechada, a fechar
devagar, a parar
uma angústia penetrante de sabor a nada...
Tantos anos, a viver de imaginação, de sonhos adiados
a perseguir o sonho, sabendo de um saber tão inexperiente
que é mais forte e corajoso que qualquer realidade,
que o pleno existe,

e afinal...
e agora...

Devolvam-me a intensidade, o encanto, o raiar dos limites,
a euforia do momento, a capacidade de ignorar que o amanhã existe,
a fúria libertadora, a paixão inebriante, a vontade de estalar e arder de seguida
da languidez do mel que percorre a coluna vertebral e quebra as pernas...

Porquê?

Porque é que me infligiram esta violência brutal, de que a entrega total é excesso pecatório e assusta o comum mortal.
Tinham mesmo que me reprimir, castrar, violentar desta maneira?

Sim, SOU EU,
para além de tudo o resto que esperam de mim, das provas que dei, da cabeça que levantei, dos monstros que engoli, das responsabilidades a que respondi, das concessões a que cedi, das expectativas a que correspondi, fui capaz, fiz!

Agora não quero mais, não estou a conseguir, larguem-me, libertem-me, não sou capaz de continuar se me exigirem só esse eu, não me matem a chama...

Esta também SOU EU, esta acima de tudo e debaixo da aparência SOU EU!

Todo o meu conjunto, pede, implora, exige!
Não matem a SOU EU, porque senão o resto morre, ou pior vegeta numa insipidez nojenta e incolor, que retira o valor a qualquer prova grandiosa que eu possa entregar em jeito de oferenda, sacrifício ritual, da vossa voracidade cinzenta, mas que mesmo assim ainda me provoca ternura, pela necessidade de verem a menina (dissimulada), que fez, com o olhar, a (falsa) promessa, de se transformar na mulher perfeita - que não sou eu.








3 Comments:

Blogger joão marinheiro said...

Que posso dizer-te eu. Quase nada perante a força das palavras tuas.
Abraço-te daqui, e obrigado por ainda estares.

segunda-feira, maio 21, 2007  
Blogger milhafre said...

meu deus... fazes-me pensar tanto cada vez que te leio...
pareces daqueles temporais africanos que inundam tudo.. que desabam tudo para depois tornar a terra fertil...
como se de um continuum se tratasse..
ler-te faz-me... querer ouvir-te querer estar ai... querer dar-te pelo tempo que quiseres o meu ombro fofinho para aliviares as tuas dores, os meus dedos para te aconchegar as lágrimas, o meu sorriso para te fazer sorrir.. e sei que ao ler-te todos nós tentamos que esse sorriso volte.. que tu percebas que os teus olhos ainda brilham... que lá fora há dias novos e deliciosos para viver..
e depois vens tu... com este texto como se nos quisesses dizer, e talvez queiras, que precisas de um tempo e do direito de ser assim, de te sentires como te sentes, de sofreres como sofres, de gritares como gritas...
como se nos quisesses dizer que sabes o que te tentamos explicar mas que na realidade entre a dor e a felicidade à um intervalo de espaço em que precisas de estar para te encontrar e despir por ti própria o luto dos dias...
Sabes... a cada linha dos teus textos... em cada desabafo... em cada grito descubro vida, garra, sonho... muitos sonhos por viver é certo... alguma desilusão... mas ainda muita garra e muita capacidade de acreditar... ainda muita luz..
por isso te tenho, te temos tentado mostrar o quanto és importante para nós.. o quanto a felicidade está à espreita...
agora e depois deste texto quero apenas dizer-te que independentemente do tempo que achares que precisas para te reencontrar, independentemente da forma como reinventares o sonho estou contigo.
beijo amigo

terça-feira, maio 22, 2007  
Blogger A.S. said...

Um texto que me surpreendeu pela frieza e agressividade das palavras. Querida Sophie, na vida todos temos momentos de escuridão. Precisamos sobretudo de acreditar que a luz existe. Mas comecemos por acreditar em nós próprios!!! Tens dentro de ti a força que precisas...

Deixo-te um beijo de LUZ...

quarta-feira, maio 23, 2007  

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