O Poeta
Por vezes retiram-te o mundo e varrem os restos dos desaparecidos para debaixo do tapete. E há alturas em que, por acidente, nos acercamos do chão, demasiado próximos como que em confidência, e recordamos que, algures, por aí, existe quem, nos recorde as marcas que tivémos outrora e que agora só ardem de quando em vez. Por tudo isso juntamos os molhos de fotografias usadas e que não ousámos deitar fora, os lápis de cor da infância que tanto tempo desenharam; as roupas já gastas e que não se apegam mais ao corpo, como os outros que nos cercam: por fim, tudo se junta no centro da sala exangue: exorcisam-se os olhares de desejo que nos tocaram ao de leve e, depois de tudo, olhando sôfregos pelo tapete, deparamo-nos com aquilo que já lá não está e não sabemos mais quem somos.
Sérgio Xarepe
Espero que sintam tanto como eu ou mais ainda, porque palavras assim, só mesmo quem as conhece por dentro.
4 Comments:
como te entendo e como entendo este texto...
fizeste-me perceber porque adoro reler as cartas antigas... as promessas feitas... porque me fascinam as fotos antigas de sorrisos passados.. o porque de saber de cor conversas tidas à anos..
somos um continuum... um acumular de vivencias.. de sonhos... de experiencias...
e sim as vezes questionamos se valerá a pena... as vezes queremos despir a alma da masma forma como nos livramos das roupas... e as vezes queremos renascer ...
mas sabes ... a vida ensinou-me a dar sentido a essas cicatrizes... ensinou-me a conviver com elas como triunfos de guerra... como se apesar das dores fossem o testemunho de que vivi... de que sonhei...
por isso sorri às tuas dores e descobre a força que mora nos teus olhos..
gosto muito de ti..
O essencial é sabermos sempre quem somos, mesmo quando andamos perdidos. É a única maneira de nos voltarmos a encontrar...
O meu beijo amigo, minha querida Ana
Como podem as palavras incrivelmente beijar assim?
Fantástico!!!
Querida Sophie, o poeta acredita no sonho... e na vida!
Um terno BeijO!
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