Hoje chove, sabias?
Hoje chove, sabias? Andei pela rua a molhar os pés, a deambular no meu caminho para casa. E não sei como aqui vim parar. E depois, quando menos se espera, surge de rompante uma música que nos ficou no ouvido o dia todo: aí, relemos e relemos um texto que ficou pelas nossas mãos, imaginamos milhares de coisas a voar pela pele, à espera de um local propício e carnudo para aterrar, onde um dia irá sobressair uma marca, uma cicatriz, um rosto.
Asfixio, gelo-me e não me consigo mexer - o meu pior medo.
Estou sobre um penhasco, os meus pés são gigantescos e mesmo assim não chegam ao chão. Lágrimas vertem do solo, por entre a erva e os paus quebrados ou queimados.
Estou não sei onde. Não sei o que faço.
A minha embriaguez verga-me a um silêncio abrupto que não consigo lavar ou alargar, em redor do meu pescoço.
O tempo está a correr daqui para fora.
E tu, onde estás?
Eu estou a cair vertiginosamente, a vontade de me deixar cair subjuga-me à inércia de agradecer o frio que vem do norte, onde eu nunca fui.
Asfixio novamente.
A garganta implode energicamente, as minhas mãos vibram por mim acima sem saber o que encontrar...
Silenciei-me.
Não sei o que silenciei dentro de mim, ou quem silenciei fora de mim, sei que toda eu fiquei em silêncio, sem me mexer, sem voz, tacto, visão. É nestas alturas que um sorriso estúpido nos sobe à cara e não sabemos mais o que dizer, quando dizer. As palavras atropelam-se dentro de nós, enrolam-se-nos na boca e os lábios continuam cerrados - e mesmo assim os meus sorriem.
5 Comments:
...cair do mais alto de si , tão raso quanto o chão...e mesmo assim sorrir
E porque não? Escuta o silêncio porque este também se ouve...
Beijo.
E sorrir é tão importante...principalmente quando parece impossível conseguir fazê-lo. Mas tu és capaz eu sei...
Beijo com todas as saudades possíveis
A eloquência é feita das pausas. Lembras-te do Marlon Brando quando era o Marco António? Ele falava, mas também tudo o que dizia era o corpo esfaqueado que nada dizia. Era o silêncio. E ainda era César. Somos assim. Entremeados de raio, trovão e céu liso e azul. Preenchidos a vida. Xi.
Querida Sophie, sinto-te uma angústia interior que as palavras denunciam. A vida por vezes levanta-se em fortes tempestades, mas haverá um dia em que o sol te beijará o corpo... Como na Primavera, tudo se renova, tudo renasce... até o amor!
Um terno e doce beijo...
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