sábado, fevereiro 03, 2007

Quebrada

A lâmina que corta é a falta, a ausência carimbada no passaporte. O gume invisível lacera o momento. E esses dias que sangram, lentamente, doem uma dor pungente.
Dói, mais ainda, ter que te amar cravando uma espada no peito. Porque amar é morrer e dissecar-se. E, ao mesmo tempo, parir-se, inevitavelmente, a cada amanhecer.
Prosseguir, dolorosamente amando, é aceitar uma guerra em paz. Caminhar por nuvens de estilhaços. E, completamente cega, entre os próprios destroços, remendar-se.
Nos armários da memória, procura-se o som nas lembranças empoeiradas.
O que resta se não há a voz que alimenta?
Resignadamente, sentar-se à mesa da solidão, e servir-se de um prato de silêncio.

3 Comments:

Blogger joão marinheiro said...

As ausências são sempre dolorosas...É preciso inventar outra palavra...
Abraço deste lado do mar

segunda-feira, fevereiro 05, 2007  
Blogger paulo said...

No prato do silêncio cabe sempre apetite para mais. E o amor tem a tendência, se expresso, voltar em ecos. Grita amor às paredes vazias.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007  
Blogger Um Poema said...

Este texto é, simplesmente, fabuloso.
Um abraço

terça-feira, fevereiro 06, 2007  

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