quarta-feira, agosto 23, 2006

Carta extraviada

Não é da minha natureza esperar que me dêem liberdade,
não espero pelo pouco que há de essencial na vida.
Sendo a liberdade uma delas, eu mesma me concedo.
Ser livre não me ensinou a amar correctamente, se por correcto se entende
este amor pré-estabelecido, ensinaram-me sim as subtilezas do sentimento, que,
afinal, é o que o caracteriza e o torna pessoal e irreproduzível.
Adoro-te muito, até quando nada percebo.
O amor que sinto pode parecer estranho, e é por isso que o reconheço como amor,
pois não há amor universal: não, caríssimo.
Não há um amor internacional. Cada cidadão, um coração, e em cada um deles,
códigos delicados. Se não é este o amor que queres, então não queres amor,
queres romance - e, este, conhecido o enredo, é fácil desempenhá-lo -, este sim, divulgadíssimo.
Adoro-te muito, e não sinto medo.
E os românticos casam-se, e fazem filhos e fazem-no cedo.
O amor que sinto poderia gerar casamento, pequenos acertos, distribuição de tarefas, mas eu gosto muito, por isso prefiro ocupar-me de ti, de mim, do nosso segredo.
Esta carta não chegará, como não chegarão ao teu entendimento estas palavras risíveis,
estes conceitos que aos outros soariam como desculpa de aventureira ou até mesmo plágio, já que não há originalidade na idéia, muito difundida, porém bastante censurada.
Serei eu a romântica, a ingénua?
Serei o que quiseres no teu pensamento, tão pouco eu me entendo, mas sinto-me livre para dizer: adoro-te muito, pode até ser um amor sem formato, altura ou peso, amor sem conceito, aceitação, impassível de julgamento, aberto, incorrecto, amor que nem sabe se é este o nome correcto a atribuir, amor, mas que seja amor.
Adoro-te muito, e subscrevo-me.
Sophie

6 Comments:

Blogger cloinca said...

Passei para deixar muitas beijokas!! Espero que esteja td bem contigo...

quarta-feira, agosto 23, 2006  
Blogger DIGNIDADE said...

Olá Sophie!Muito intensa e sincera eata carta, que de extraviada, certamente, só tem o nome...deve ter chegado ao destino em segurança e atempadamente...
As dúvidas, as incertezas, a mágoa, a descrença nos teus amores estão sempre presentes nos teus belos textos.
Eu sempre fui uma defensora de todos os tipos de amor, os elevados (filial, parental, franternal, amor a uma causa, à filantropia) mas uma descrente no amor que todos os homens e mulheres procuram para dar sentido às suas vidas...fiz opções erradas, encontrei pessoas lindas com as quais era incompatível e pessoas pouco interessantes com quem me envolvi pelo desafio, tive paixões, tive encontros, tive desencontros...todos eles serviam apenas para eu enfatizar a crença de que não existe o amor eterno...mas um dia (esse dia foram uma sucessão de dias) a vida e o sonho apanharam-me distraída e eu conheci a minha alma gémea! Estamos juntos há dez anos e com quatro filhos...nem sempre é fácil, nem sempre há paixão, nem sempre há o tempo que o outo precisa...mas somos o prolongamento um do outro, temos a cumplicidade dos amigos de infância, a paixão dos adolescentes e o carinho dos casais em bodas de ouro - porque fomos feitos à medida e porque respeitamos a individualidade de cada um...
Estou certa, que um dia, encontrarás a tua outra parte...
Até lá vive intensamente cada instante, pois são essas vivências que te darão consistência futuramente.
Para terminar uma frase de Richard Bach:
"Não te afastes de possíveis futuros antes de adquirires a certeza que nada podes aprender com eles e não te esqueças que és sempre livre de escolher um passado diferente ou um outro futuro..."
Coragem! Um bj!

quarta-feira, agosto 23, 2006  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Sophie
Cartas de amor são raras agora, mas já foram tudo, o verbo possível, outrora.
Um beijo
Daniel

quarta-feira, agosto 23, 2006  
Blogger Um Poema said...

O que foi dito está dito.
Um abraço

quarta-feira, agosto 23, 2006  
Anonymous Anónimo said...

(...)Os vultos tornam-se cada vez mais evidentes, e a inexplicável vontade de amar(..)

Como um louco perdido na escuridão sinto as palavras, sinto os receios, busco o meu ser, escondo-me por trás do meu eu e acredite, por todos os momentos não esqueço aquele em que acredito.

Um dia é apenas um dia, uma vida não é apenas uma vida.

Persigo a perfeição, nos actos, aqueles que encontrei e defendo-me, porque estou a assumir aquilo que quero e não apenas aquilo que consigo.

quinta-feira, agosto 24, 2006  
Blogger Sophie said...

Esta carta é de autoria de Martha Medeiros. Uma grande escritora.

segunda-feira, setembro 10, 2007  

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