A voz do silêncio
A madrugada surpreendeu-a ainda vestida e sapato de salto.
Aproveitou para ir à varanda e olhar as folhas das árvores, completamente, imóveis.
Todos os segredos da noite só para ela.
Há olhares que são únicos. Há pensamentos castos.
Há verdades incompartilháveis.
E ela queria mesmo ficar só.
Preferia o egoísmo de querer a noite só para si.
Nada de sobejar afectos!
Era melhor aquele viver de boca fechada.
Nem sabia se estava certa nas suas teorias, mas tudo haveria de passar.
Um terço da sua mente estava ocupada com estes pensamentos.
O restante saltava por cima para contemplar a página 81 do livro que ela resolvera abrir para adiantar um pouco a leitura.
Franzia a testa, olhava firme para as letras, mas, onde estava a concentração?
Devia ser por causa da tal terça parte.
A matemática opõe-se diametralmente à leitura.
Aliás, a matemática é metálica e arranha o coração quando tenta determinar a quantidade da ilusão que resta.
Que coisa mais racional!
E quem já não se viu equacionado num "todo" ou num "vazio"?
Definitivamente, ela não aprendeu a lidar com pesos e medidas.
Fora aluna indisciplinada, derrapou na recta do conhecimento lógico e quebrou a cara porque não soube prever a velocidade de dois corpos.
Os poetas e filósofos nunca a preveniram, só estimularam:
"Tudo vale a pena se a alma não é pequena." E agora Fernando Pessoa, continuaria ela a lançar o olhar de asas sobre as árvores?
Continuaria a se conformar com Stendhal: "Possuir é nada, desejar é tudo"?
Deixou que o silêncio levemente lhe tocasse o rosto.
O silêncio que já lhe tocara antes e que lhe tocará depois.
O silêncio que só fala do silêncio.
O silêncio que é belo sem ter porquês.
É porque é. Assim é, assim seja.
Sophie
Aproveitou para ir à varanda e olhar as folhas das árvores, completamente, imóveis.
Todos os segredos da noite só para ela.
Há olhares que são únicos. Há pensamentos castos.
Há verdades incompartilháveis.
E ela queria mesmo ficar só.
Preferia o egoísmo de querer a noite só para si.
Nada de sobejar afectos!
Era melhor aquele viver de boca fechada.
Nem sabia se estava certa nas suas teorias, mas tudo haveria de passar.
Um terço da sua mente estava ocupada com estes pensamentos.
O restante saltava por cima para contemplar a página 81 do livro que ela resolvera abrir para adiantar um pouco a leitura.
Franzia a testa, olhava firme para as letras, mas, onde estava a concentração?
Devia ser por causa da tal terça parte.
A matemática opõe-se diametralmente à leitura.
Aliás, a matemática é metálica e arranha o coração quando tenta determinar a quantidade da ilusão que resta.
Que coisa mais racional!
E quem já não se viu equacionado num "todo" ou num "vazio"?
Definitivamente, ela não aprendeu a lidar com pesos e medidas.
Fora aluna indisciplinada, derrapou na recta do conhecimento lógico e quebrou a cara porque não soube prever a velocidade de dois corpos.
Os poetas e filósofos nunca a preveniram, só estimularam:
"Tudo vale a pena se a alma não é pequena." E agora Fernando Pessoa, continuaria ela a lançar o olhar de asas sobre as árvores?
Continuaria a se conformar com Stendhal: "Possuir é nada, desejar é tudo"?
Deixou que o silêncio levemente lhe tocasse o rosto.
O silêncio que já lhe tocara antes e que lhe tocará depois.
O silêncio que só fala do silêncio.
O silêncio que é belo sem ter porquês.
É porque é. Assim é, assim seja.
Sophie
7 Comments:
Desejar, querer, ter fé, acreditar, amar...tudo, sem dúvida.
Beijinho gd
***
Desejar, querer, ter fé, amar, sim; quanto ao acreditar não!
E não porquê? Porque a mentira não é odiosa por si mesma, mas porque se acaba por acreditar nela.
Beijinho para ti tb.
Sophie
Pessoa diz também, no mesmo poema, que "quem quer passar além do Bojador, tem de passar além da dor" e quando o diz, não o diz no sentido de passar por ela, mas sofrê-la. É assim a vida e o paasar dos dias, passam por nós, mas tocam. Tocam sempre.Xi.
E o local de chegada/partida é sempre o silêncio interior...
daniel
...querida A.encontro-me por aí no meio das tuas palavras.no meio de tanto silêncio.
deixo o meu abraço.
o meu até breve...
obg A.
olha... que bonito!!!
Eu hoje passei a noite a trabalhar e a meio da noite, deviam ser umas 4h da manhã fui para a varanda, olhar para a cidade... e estava um silêncio tão grande, tão bom! estive lá uns bons minutos a aproveitar!
Um beijão grande e silencioso para ti,
cláudia
Sei que venho bastante tarde, mas não queria deixar de agradecer a tua visita ao abismo. Ao doce abismo onde seres encantado vivem em perfeita harmonia com quem os espreita e lhes sopra palavras. Palavras sopradas num deleitoso silencio.
Um grande Sorriso encantado...
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