quinta-feira, dezembro 27, 2007

Puzzle

Gosto de puzzles, aguçam-me o raciocínio e aliviam-me o stress acumulado ao longo do dia. Torno-os complexos, dividindo e subdividindo as pequenas peças, dando-lhes formas estranhas.
Aumento assim o prazer de as sentir encaixar com sons cavos, marcando ritmos.
É quase uma melodia que jogo no teclado.
Ultimamente e com um certo ar non-chalant, deixei que as peças me conduzissem.
Observei-as, segui-as naquilo que mais detesto: o óbvio.
Juntaram-se sem qualquer esforço meu, soltaram-se como necessidade desejada. Como quando procuramos um filme, sem conteúdo, de realizador obscuro, apenas pela vontade de esvaziarmos o espírito e mergulharmos no nada...
... mas o que me perturba foi fingir, de forma tão serena, que o puzzle era interessante.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Nunca estive no deserto, não nesse deserto. Mas longe dele ofereci-te a sua imagem para que ficásses próximo. Não que desejasse seguir-te, não poderia, apenas te acompanhava no movimento das mãos em palavras desenhadas pelos dedos esguios, douradas de grãos de areia colhidos na pequena cratera que o vento sulcara.
E partilhava, no brilho gaiato do sorriso a sombra que o sol estendera ao afastar-se. Essa imensidão enraizara-se-te na alma e escorria como um sulco, gravado pelos passos percorridos, não permitindo outra estrada que esse trilho reencontrado ao amanhecer de cada dia.
E as horas eram sugadas na voragem de um quotidiano louco que não querias diferente, no desajuste de tempos e espaços. Abraçavas a tristeza como uma sombra de que não era possível afastares-te e mergulhavas no deserto que a imagem te devolvia e que eu, tão carinhosamente, te oferecera.

sexta-feira, dezembro 21, 2007

És a referência que me norteia e à qual volto, sempre que me sinto perdida.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Apenas os gestos nos restaram


Não ouses as palavras.
O seu murmúrio desnuda-me.
Nem procures saber os percursos onde encerro os sonhos.
Basta que recortes as sombras e repouses em frente
ao meu sono.

terça-feira, dezembro 11, 2007

menina-mulher

Encontrei um sonho.
Senti-o respirar junto ao peito.
Com cuidado, toquei-lhe. Ao de leve.
Então, com as minhas mãos desatei laços de ternura e recolhi nele afectos retirados da alma.
A aragem da noite balançou suavemente e o sonho, deixou-se embalar nas sombras.
Sem me dizer adeus, levou consigo sorrisos e promessas.
Abro a janela, deixo entrar o luar mas o sonho, saudoso de ti, prendeu-se-te ao olhar e não voltou.
O sonho que me emprestaste.
O sonho que te roubei.

Olho as palavras.
Decifro imagens sentindo o desejo de ir mais longe. De espreitar por detrás de cada signo, acariciando, cores, sombras, traços. Como uma dança sedutora, sou por elas arrastada, em rodopio que não domino, em vertigem de linguagem, estonteada pelo sabor perfumado de cada som, pela harmonia saltitante da cada ponto...
... os espaços contidos em reticências hesitantes, são apenas histórias a preto e branco esperando coloridos de mãos apaixonadas.
E em brincadeira de menina travessa, retiro do meu saco de magias, frases enlaçadas, inseparáveis como aquelas figurinhas rasgadas em papéis brilhantes que me deslumbravam em criança.
Coloco-as na linha de visão, reconhecendo sentimentos, emoções, afectos.
E não sou mais a menina.
O olhar de mulher, recolhe promessas, paixões, em frases desnudadas, acolhidas no olhar cansado, sonhador...
... descoloridas pela solidão e pela ânsia imensa de ternura.
E assim, fico a olhar as palavras...

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Odeio quando faço uma pergunta, uma simples pergunta e não obtenho feedback.
Odeio intermitências na comunicação, arrebatamento inicial e frieza súbita.
Amo a originalidade em tudo, sobretudo na abordagem dos afectos.
Amo os jogos subtis, inteligentes, francos, mantém vivo o interesse.
Amo a frontalidade, até para se dizer que tudo não passou de "um momento feliz".

sábado, dezembro 01, 2007

Também eu...

Não me ocorreu nada,
eu só sei no papel o que se deve fazer;
na vida,
tenho sempre dificuldade em encontrar as palavras.
Hoje sei o que então ignorava:
que não podemos exprimr os afectos de uma forma já
sabida, canalizada, articulada,
e que não posso determinar a sua forma no lugar de quem quer que seja.