quarta-feira, dezembro 20, 2006

Devaneios



O silêncio invoca a força da voz e brado.

Brado em vão.

Não importa, não serei omissa: olho para o teclado e disparo a artilharia. Estou certa de que algum vento desviará os meus gritos para onde quero... para lá... longe, onde nem posso chegar.

O que se faz quando o coração se agita, as mãos esfriam e a saudade aperta?

Medito. Gosto de reservar-me no recolhimento das clausuras.

Encontro-me quando de mim fujo,

a consciência apaga,

a inconsciência acende.

Devaneios...

sobram-me devaneios nesta noite que se arrasta,

mas é tarde e estou com sono.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Às vezes fujo


Às vezes pergunto-me porque fujo deste mundo que se me apresenta tão cruel... das pessoas que não se entendem e não procuram, entender os demais. Sinto que há homens demais e corações de menos.
Pequena, acostumei-me a ouvir bonitas histórias, todas inventadas, porque as dos livros infantis, não interessavam, pois já lera todas. Gostava e ainda gosto de histórias de amor e de preferência, com finais felizes. Acho que vem daí, a minha impaciência ao ver este mundo tão sombrio, com tanta dor.
Descubro que dentro de mim, existe um ninho de fragamentos que não foram enevoados, sinto-me presa ainda a elos que se agregam numa cadeia, nem sempre visíveis ao tacto ou à visão.
Presa às coisas singelas, ao afago, à amizade, à lealdade. Cresci sem a cautela que o mundo me exige, por isso, às vezes fujo.
Reuno todos os tempos, guardo-os em mim. Sinto-me plena dos resíduos que um dia me pertenceram. Não os apago da memória e zelo por este latejar vibrante que induz à continuidade de quereres e de vontades.
A noite "anoiteceu",
penso em levar para o futuro a delicadeza, o carinho e o amor que nunca hesitarei em partilhar.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Ausência

E ela passava os dias a sentir uma falta. Muita falta. E, esta falta aumentava quando chegava a noite. Não sabia porquê. Uma ausência forte. Uma sede. Insaciável. Que nascia nela. Não sabia de onde. Uma saudade. Exagerada. Não sabia de quem.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

...



Sinto que é hora de voar...

e como uma borboleta estou a desfazer-me de um casulo que me prendeu por um longo tempo.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Em nome da magia


Confesso que a chegada do Natal me deixa sempre um pouco triste. Nostalgia de tempos áureos ou mágoas insolúveis, a verdade é que a contagem decrescente para a grande Noite me provoca uma certa melancolia.

Uma angústia que tento disfarçar (mal) e que me habituei a combater com alguns truques (nem sempre eficazes).

Entre ataques de fúria contra filas intermináveis no trânsito, supermercados apinhados, campanhas publicitárias sufocantes e manifestações instantâneas de paz e harmonia, é sobretudo na ilusão e no simbolismo que a tradição natalícia preserva junto dos mais pequenos que vou buscar força e ânimo para celebrar, com criatividade, alegria e algum humor, o nascimento do Menino Jesus. Afinal, que melhor para nos cativar que o olhar de uma criança?

Além de que, cabe-nos a nós, crescidos, a responsabilidade de fazer do Natal uma data mágica. Melhor ainda, inesquecível e memorável.

Para lá de convicções religiosas mais ou menos fervorosas, não nos podemos esquecer que o feitiço não dura sempre e que, não tarda nada, os nossos filhos ficam "desiludidos" com o Pai Natal. E porque "aquele dia passa tão depressa", há que aproveitar os preparativos para desfrutar, em pleno, de uma data tão especial. Dos enfeites da árvore à decoração da casa, da montagem do presépio à escolha dos menus, do envio das Boas-Festas à carta para o Pai Natal, tudo pode servir para (re)viver uma tradição recheada de valores, personagens e histórias. Que vai muito além dos tão ansiados presentes e que pode, mercê de algum empenho e imaginação, transformar-se numa oportunidade única para apelar à fantasia, mas também ao engenho, à harmonia e à generosidade. Verão que as crianças vão adorar! E, um dia mais tarde, agradecer...

Banalidades



Descanso a minha ousadia na retina do nada,

porque estou sem inspiração e mesmo assim, ainda assim, queria tanto dizer-lhe,

mas...

... só nascem banalidades de mim.

domingo, dezembro 10, 2006

Medo



O medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, devia vir no dicionário como antónimo de vontade. O medo é como um terreno minado; nunca o atravessamos mesmo que do outro lado estejam todos os nossos desejos.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Liberdade primeira


Por vezes a palavra é tão somente a minha segunda liberdade.

Por cada palavra dita, por cada palavra escrita, muitas outras permanecem.

Esquecidas umas; pensadas muitas; não ditas tantas...

Refugiadas por medo, por vergonha, por respeito.

Aprisionadas por castigo.

Amordaçadas pelo silêncio,

vagueiam nos labirintos da minha liberdade primeira:

o pensamento.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Dezembro é anunciado

Tenho a voz rouca de tanto esperar por mim.
Quero invadir a casa da minha inquietação e cozinhar nas panelas velhas.
Brincar de primavera, e quem sabe, o inverno se acalme em mim.
O meu coração acumula expectativas de uma saliva que indaga sombras.
Quero descer a rua dessas subidas que insisto.
Divido-me em outros e ainda não sou eu.
Rabisco traços de uma consciência alada, na tentativa de refazer os rascunhos de mim.
Deito Kant.
Acordo Nietzche.
E só escuto o Réquiem de Mozart pelos escombros que me perdi.
Dezembro é anunciado.
Então, aguardo.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Um passo

um passo
um passo e o mesmo impasse
a mão procura um sinal
uma resposta que parece vir
mas talvez não seja
e o momento passa
não passa
agora
não
agora não
os olhos cruzam-se
e parece que sim
e é possível voar com os pés no chão
há uma corrida cá dentro
o coração sobe à garganta
e sufoca
e é tão bom sufocar assim
chegar mais perto e ter medo
afastar e já não ter medo nenhum
olhar de longe e sentir que o espaço
pode não ser nada
tenho um elo no pulso
ligado a um par
a mares de distância
e mesmo assim senti-lo vibrar
e agarrá-lo e ser como se
agarra-se uma mão
como se desse um passo adiante
como se o mar fosse só a poça que
todos os dias piso à porta de casa
como se tivesse saído e dito só
até já.